*O texto é um tanto antigo, foi escrito em junho de 2011, se não me engano. Mas como publiquei um trechinho no face e o povo pareceu gostar, publico ele todo aqui.
A hora do cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond de Andrade
Drummond não é para qualquer um… Drummond não nos alimenta com ilusões; ele nos deixa com esse gosto acre na boca.
Muitas vezes urdimos caminhos que nos engedram, sem que percebamos. Sem nos darmos conta, vamos abrindo as trilhas onde nos perderemos. Algumas vezes, pressentimos, sentimos um cheiro, ouvimos um som, o coração para por um milésimo de segundo, e é um aviso para pisarmos devagar. Mas o desconhecido atrai, o perigo embriaga, e, enquanto a razão fica para trás resfoguelando, o coração segue, desgovernado, por caminhos tortuosos.
O que são palavras bonitas, promessas de amor permanente, planos para o futuro, além de tentativas vãs de manter o sonho, a esperança?
Não, nem sempre eu sou tão cético, tão seco. Fecho o livro do gauche e observo as pessoas no café da livraria: casais, idosos, adolescentes, algumas pessoas lendo enquanto esperam alguém, e eu. Têm sido assim meus últimos fins de noite e finais de semana. Aqui eu me cerco de livros e de barulhos, zum zum zuns de conversas, cadeiras arrastadas, xícaras chocando-se aos pires, o mp3 no ouvido; sons que me trazem silêncio. É nesse silêncio zuadento que mergulho e leio e penso nela e sinto solidão e dor e uma miríade de sentimentos que sufoco embaixo da face serena e do sorriso simpático e das palavras cordiais para as vendedoras que já se acostumaram à minha presença.
Por detrás do que se vê, meus olhos estão mergulhados em lágrimas que não podem transbordar. As impedem o trabalho, a companhia, o sol. Mas cada pensamento nela é uma gota de saudade que escorre e percorre, imperceptivelmente, minha face e a face do dia. Passo a passo eu sigo meu caminho sem ela, pior, sem a esperança de sua presença. São passos vazios, são pés que deslizam no gelo seco da rotina imersa na saudade.
Li em algum lugar que o que a memória ama fica eterno. Serão eternas a dor e a tristeza que a lembrança do meu amor por ela trazem ao meu peito, aos meus olhos, mas nunca aos meus lábios? Não, sei que não serão. Se não são eternos o amor, o desejo, a vontade de estar junto, a felicidade; não podem ser eternas a dor e a tristeza. São eternas hoje, como aqueles foram eternos ontem.
Anoitece, e é incrível como a noite amplia os sentimentos. E se é para ser dramático, farei como Bandeira e procurarei curtir sem queixa o mal que me crucia.
Steller de Paula